it hurts so bad that even jesus wanna fall forever

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Estirpe humana, o cômputo do teu viver é nulo

A vida quis sorrir pra mim, mas eu estraguei sua face de tal forma que esta agora se faz irreconhecível. Logo, nem mesmo um esboço de sorriso aparentará estar ali seja quando for. Só se evidenciará a massa disforme que outrora esmaguei com meus próprios punhos e pisões e rasgos que fiz com os dentes e arranhões que fiz com as unhas.

Sou um animal no que tange à existência. Na conotação mais brutal possível. Eu estupro a vida e, desta, estupro ainda a mãe e a filha.

Vim pra incomodar e apagar qualquer traço de existência que se faça presente. Aniquilo este erro, a vida, que perdura na programação ordenada e perfeita que é a morte absoluta onde a tranquila serenidade reina em paz. A vida é que nos perturba, enquanto pode. A morte sempre vence, incansável, e sou seu mensageiro mais fiel.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Is nothing too much?

Eu fui feito pra destruir
E nada vai me impedir

Sou uma máquina que mata
Você é um quase primata

Arranco sua vida escassa
E te faço um favor de graça

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

BadWholeDay

Das certezas sobre a existência, só me resta a primeira e única além da morte:
- Depressão pós-vida.

sábado, 4 de outubro de 2008

Minha vida toma um rumo incerto e bebe em fontes de rios sinuosos.
O futuro é negro assim como o passado.
Ambos compondo meu presente sombrio.
A escuridão toma conta, ainda que já a tenha visto pior.

sábado, 26 de julho de 2008

Clara preguiça.

Eu perdi o elo com o lado mais escuro da minha mente.

A escuridão era tamanha, que não conseguia mais distinguir algum traço de existência ali.

Talvez, por isso, tenha passado tanto tempo longe daqui.

Não que isso tenha me afastado do meu lado escuro. Na verdade, ele só aumentou.

Cada vez mais sombrio.

E sem água fresca.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Morte do Underground (not by me.)

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BOAS NOVAS SOBRE A MORTE DO UNDERGROUND
. . . .
nem 1977 nem 1983
Oito de dezembro de 2007

por CRISIS C. e
JOSEPH PATRICK OLAVSFJØRÐUR MORZELO




"[...] though nothing else of the present have
a future, our laughter itself may have a future!"
(Friedrich Nietzsche. Beyond the Good and Evil, § 223)

I. Uma boa-nova
Desde a morte de Deus, nenhuma boa nova foi tão ansiosamente aguardada quanto esta: o underground está morto. O underground aqui significa toda e qualquer subcultura.
A definição de grupos underground é "um grupo seleto de pessoas que não se deixam influenciar pelo apelo da mercadoria que define o mainstream". O underground portanto funciona como uma força que resiste à rasteirice e yuppieficação da música popular. O conceito de bandas 'cult' nos liga diretamente a isso: a banda cult é aquela que constrói seu sucesso sobre a adoração (culto) de seus fãs, cativados pela habilidade e originalidade da banda, ao invés de terem seu sucesso garantido por seguirem um modelo pré-determinado do sucesso. Vamos colocar o exemplo dos Beatles, Rolling Stones, Black Sabbath, Led Zepellin, Pink Floyd, The Grateful Dead, Radiohead como as maiores bandas cult do rock: antes delas não havia nada igual. Necessariamente elas surgiram num ambiente onde nada de muito autêntico surgia, e salvaram a temporada com suas aparições inovadoras.
O grande lance das bandas cults é que elas reconfiguram seu estilo; elas são criadoras de tendências por excelência, provocam rebuliço, são seguidas por milhares de imitadores até que é criado um ambiente onde tudo parece ser o mesmo de novo, ninguém mais agüenta a mesma merda, e surge outra banda cult pra salvar o rock da mesmice geral. O cult estabelece novos cânones - só que o que aconteceu é que chegamos à consumação do cult. Simplesmente o modelo desse fenômeno foi descoberto e agora toda banda pode ser cult.
O próprio modelo de inovar se tornou um mecanismo viciado. Até que ponto as bandas, por mais criativas que sejam, inovam algo? No máximo elas inovam sua própria música e cena local, mas até agora não inovaram o conceito do que é música, do que é cena, por exemplo. O mainstream passou a abarcar elementos do cult: especialistas dentro de salas empoeiradas nas grandes empresas fonográficas criam o culto em torno das bandas, sintetizam inovações musicais e visuais do próximo sucesso. O mainstream atualmente necessariamente vai ser cult, porque cult é a única coisa que vende hoje.
Mas que isso, o abismo que dividia underground e mainstream hoje parece ser uma linha tênue. O que define a diferença do mainstream pro underground hoje? Meu palpite é: Maior sucesso de vendas do primeiro. O que quer dizer que o underground é somente uma versão em falência do mainstream, são variações de uma mesma merda que é música contemporânea.
Música contemporrânea. Eu não pretendo fazer uma crítica da economia capitalista e propor música gratuita, que artistas underground vão tocar no metrô e esperar viver às custas de trocados de transeuntes. Eu só pretendo, com a perspicácia de um legista, dar as causas da morte do underground e fechar esse livro na história da cultura ocidental para sempre. Depois disso vocês poderiam matutar sobre o que seria uma música pós-underground baseados em seus próprios desejos por algo diferente da banalidade que nossos rádios arrotam diariamente.

II. Causas mortis #1: do underground à superfície

A palavra underground foi introduzida na boca de críticos de música durante os anos 60, com o surgimento dos movimentos de renovação comportamental (movimento hippie, movimentos estudantis europeus). O termo, que em inglês significa 'sob o solo, subsolo' remete a realidade dos movimentos de resistência política da segunda guerra mundial, cujos partidários eram obrigados a se reunirem em lugares subterrâneos para discutirem suas estratégias, já que se fossem descobertos seriam mortos ou exilados. Muitos consideram Frank Zappa o responsável pela cristalização do conceito no cenário musical, ele que afirmou, a respeito da mesmice da música da época, "The mainstream comes to you, but you have to go to the underground." A importância dessa frase é que ela opõe duas forças num jogo maniqueísta: bem contra o mal, a pura intenção artística contra o filisteísmo da indústria cultural, o hip contra o yuppie.
Dos anos 70 até os 90 o rótulo underground passou a ser carregado por artistas e grupos sociais que negavam patrocínio de grandes empresas e de veiculação de suas idéias e expressão na mídia popular. A idéia de estar no underground necessariamente implicava renegar estilos de vida convencionais e viver exclusivamente para a manutenção de um novo estilo de vida através do convívio com pessoas afins. Daí a razão de vários grupos diferentes terem surgido no underground dos anos 70 em diante (industrial no começo dos '70, punk em '76, post-punk em '79, new wave e goth nos '80, ...); cada grupo representava novos ideais de vida fora da sociedade convencional.
Zines eram passados de mão em mão e bandas se apresentavam para grupos seletos, por havia um certo vínculo intransferível que se macularia caso a música e cultura underground fosse divulgada assim como eram veiculados produtos no mainstream. O objeto de consumo do mainstream são bugigangas que todo mundo pode ter, ao passo que no underground é cultura, idéias reservadas a indivíduos seletos. Isto é, as bandas perderiam seu brilho se pudessem ser conhecidas e vendidas em qualquer esquina, assim como as roupas perderiam seu significado simbólico e identidade se pudessem ser usadas por qualquer um. O estigma social do grupo era seu status, ao mesmo tempo.
Isso criou um certo elitismo em cenas, que ao mesmo tempo que ajuda a mantê-las vivas em sua forma 'pura' (isto é, longe da massificação e banalização de seus ideais), impede que ela cresça.
O grande problema é: os ideais são os mesmos, mas será que a época é a mesma? A idéia de que o underground continua o mesmo hoje em dia me soa no mínimo inocente. De fato ainda temos porões mofados, bandas obscuras, pessoas vivendo estilos de vida totalmente escrotos pros padrões da vigilância sanitária. Só que esqueceu-se que nos anos 90 algo chamado Internet já proliferava seus terminais como células cancerígenas no corpo social, tornado tal rede mundialmente famosa, permitindo um acesso indistinto do que é underground para todos.
Estranhamente a primeira coisa que a internet abarcou foram cenas underground. Mais de um livro sobre a cena rave dos anos 90 menciona que, quando as BBSs e internet se popularizaram, as pessoas ficaram empolgadas como nunca, elas achavam que isso era a maior revolução social já vista desde 1917. Nunca antes na história da humanidade era possível adquirir cultura em tempo real em países que você nunca ouviu o nome. A internet acabara com as limitações de tempo e espaço, tornou o ser humano em espírito que poderia vagar livremente pelo espaço em busca de qualquer fonte de estímulo que o satisfizesse. (Considere que essa geração geralmente estava mais propícia a se empolgar com novas tecnologias considerando seu consumo de LSD, ectasy, special key...)
Eu ainda acho que a internet é um instrumento genial para livre-veiculação de idéias, mas minha sugestão é que nesse momento de empolgação geral, por bem ou mal, o underground bateu as botas.
O conhecimento de bandas e cultura marginal, algo que era antes uma questão de identidade, um vínculo de sangue intrasferível entre pessoas com ideais afins, virou objeto de fetichismo de colecionadores geeks. Hoje qualquer moleque do interior do Azerbaijão pode acessar os portais ultra-obscuros de Londres e se tornar underground, sem estar na cena, freqüentar o que há de orgânico e mais vivo nela, somente vestindo a identidade que é vendida. Numa época em que as pessoas imploram por uma personalidade e identidade, isso se tornou um sonho para o mainstream. Em questão de minutos passaram a vender roupas e mentalidades de todas as subculturas possíveis em shopping centers. A MTV se democratizou e virou o canal mais yuppie da história da televisão.
Não há mais obscuridade, todo material divulgado em internet esta disponível aos quatro ventos. Nesse sentido não faz mais sentido falar que há algo como under-ground, visto que agora ele subiu à superfície. E não é só uma questão de meios materiais e da revolução nos sistemas de comunicação que providenciou isso, mas um detalhe da história das ideologias.
Não só o underground subiu às superfície, como também todos seus ideais estão mortos.

III. Causas mortis #2: nota sobre a morte dos ideais
Por que o underground está morto?, acho que era essa a pergunta que eu deveria responder agora. Em termos geral, ele está morto não so porque é vendida em megastores, mas sobretudo porque hoje ele fala de coisas que não existem. Isso se refere acima de tudo a ideais pelos quais as pessoas se matavam nos anos 80, e que não fazem mais sentido nenhum hoje em dia:

- Por que os ideais emocore, futurepop e pop-domingão-do-faustão estão mortos: a temática desses estilos remontam as cantigas de amor provençais, do século XIII. É foda ver que desde o século XIII os cornos não se resolveram ainda.
- Por que os ideais góticos e EBM esstão fedendo há muito tempo: letras góticas variam de um hedonismo resignado a um romantismo desconsolado que você permite em uma criança de 14 anos. Bandas de darkwave femininas (Diva Destruction, Cadra Ash) não fogem da temática 'você mente pra mim, fdp, vou me vingar', 'eu não gosto de ser uma garota normal'; entusiastas nostálgicos do gothicrock não cansaram da ressaca de domingo, músicias sobre paisagens desoladoras e sedução nas trevas. Eu não aguento mais ver aquelas barangas embaladas em sacos de lixo de vinil e PVC. Nem meninas frágeis vestidas de boneca contando sobre suas vidas íntimas. Simplesmente uma parte de suas temáticas são brochantes suficientemente para que letras sobre sedução por vampiras carniceiras tenha efeito afrodisíaco. Gótico não tem mais nada de sedutor, nada de misterioso, não convence via nenhum apelo artístico ou beleza nas letras, é simplesmente uma bosta.
EBM é sci-fi de oficina mecânica. Talvez a Industrial Records e a Neue Deutsche Welle tenha produzido artistas realmente bem-dotados, todos influenciados pela geração beat e experimentação que a tecnologia dos anos 70 havia colocado em suas mãos. Se antes o Einstürzende Neubauten se enfiava em galpões de lixo industrial para achar peças de seu novo instrumento musical, o Icon of Coil cria uma linha de batidas com 16 steps com qualquer som no mundo através de alguns cliques no computador. EBM simplesmente se esgotou. Nem suas temáticas são boas. Hecatombe nuclear é tema da Guerra Fria. Ninguém mais acha que vão soltar a Bomba de Hidrogênio e que teremos que usar máscaras de gás para sairmos pra comprar pão na padaria, só o Funker Vogt deve achar isso.
Mais um caso de informação mal-digerida e paranóia pós-moderna que eu esperaria na minha avózinha de 101 anos.
- Por que eu nem preciso perguntar o mootivo de que os ideais do Industrial rock, Marilyn-Mansonites, NINites nunca existiram: falar sobre decadência moral usando imagens fortes de morte e dor pode ser um cacoete e se tornar algo tão boçal quanto horror-spaghetti. Marilyn Manson tem um problema sério: ele é um moralista de cinta-liga. Ele é aficcionado por sua própria imoralidade, título de calibre grosso na Church of Satan californiana, bissexualidade, vício em drogas, só que ele lida com elas como uma carola católica lidaria com seus próprios pecados inconfessáveis. Essas coisas só são realmente 'pecados' a serem gritados pros quatro cantos do mundo quando você acredita que haja algo como 'pecado', 'o Bem moral', 'uma força benevolente contra uma força maligna', ou seja, quando você é cristão. Marilyn Manson é cristão em última instância. E sofre de crise de consciência; ninguém quer saber de quão pervertido ele pode ser, ou quão mal sua criação cristã fez pra sua consciência. Isso é perceptível pela sua (falta de) voz.
- Por que os ideais geek-heavymetal nunnca deveriam ter saído da sessão de RPG: [conversa no telefone] "Alô? O que você tem de novo pra mim? Mais uma música sobre elfos? Sim, agora não é uma versão baseada no Tolkien, entendi. Ei, peraí, deixa eu falar, vocês não querem começar a escrever sobre algo novo não? Hein?! Oooo.... ok. Sim... Uma música sobre batalhas de mágicos e o fim do mundo dos vikings, o Ragnarók narrado pelos Edas islandeses... e o cara do Angra vai fazer participação, menos mal. Vou conversar com o dono da gravadora, mas acho que ele já tá meio saturado disso. E do mais, como vão seus filhos e esposa, bem?"
- Por que os ideais anarcopunk, nazipunnk, resistence-punk estão mortos: - certa vez eu conheci um cara de uma banda post-punk polonesa chamada Fort BS, cujo álbum Nagrania Zimnofalowe (1985) eu ouvi durante anos a fio antes de saber que eles ainda existiam. Descobri que eles mudaram totalmente de estilo e se tornaram uma banda de hooligan-rock de temática anti-comunista. Durante o regime comunista polônes eles não tocaram contra o regime (pra proteger suas cabeças), e agora tocam contra um regime que não existe mais. Bandas de resistência política fazem sentido enquanto esses movimentos existem.
Bandas de apoio ao anarquismo e nazismo faziam sentido quando algo diferente de democracia neo-liberal era possível. A falta de conhecimento político deles impediu de ver que desde o final da guerra fria não existem blocos autoritários vs. democráticos, simplesmente não existe mais disputa entre duas ou mais ideologias políticas para que haja mudança nos cenários políticos. Isso significa que na história dos séculos que vão além do 21 a democracia capitalista rolará solta até que entre em um colapso por suas próprias forças, mas não por um motim de novas propostas políticas do passado. Comunismo e fascismo são indiscutivelmente sistemas do passado; ainda que existam países comunistas ainda hoje (China, Coréia do Norte), qual é o futuro de seus sistemas? E existe de fato um bloco ideológico comunista que luta contra a totalidade capitalista?
O maior país comunista do mundo, a China, é uma das maiores economias capitalistas do mundo. A Coréia do Norte, um país de merda, tem o décimo segundo pólo industrial do mundo em Pyongjang, cuja maior parte da produção é comercializada. Seu presidente importa só para os membros do partido político do país, o Partido dos Trabalhadores, US$ 750.000 anuais em conhaque Hennesy. Mais de 200,000 de norte-coreanos morreram de fome desde o início do regime, desde 1994 o país se afundou numa crise de produção agrícola que é praticamente impossível de ser recuperada (talvez se cortassem os gastos com conhaque ajudaria). Em resumo, comunismo lenista e regimes autoritários autosuficientes NUNCA voltarão a existir. Temática política do punk-rock veio de informação mal-digerida recebida na aulinha de história.
- Por que horrorpunk e deathrock nãoo viram mais: temáticas como 'minha sobrinha comeu minha perna' ou 'tem um demônio sumério de 4000 anos na máquina de xerox' simplesmente deram no saco. De certa forma deathrock, surgindo como uma refutação do gótico, caiu na mesmíssima síndrome de morte e estados de perturbação mental, virou uma morbidez cansada, e se tornou só mais uma variável irritante do mesmo diapasão do qual sai o que chamamos de gótico.
- Por que não levantamos bandeira daa cena rave: Grant Morisson disse que esse tipo de gente, assim como os hippies safados faziam, foge de seus lados negros. Grant Morisson sabe o que diz.
- Por que não temos medo de black meetal: black metal é um fenômeno curioso: eles são ateus que não conseguem passar 10 minutos sem falar sobre deus. "Eu odeio Deus... mas não, eu não acredito nele" é legal; se você xinga uma entidade, você afirma sua existência, necessariamente. Outros gostam de falar sobre o Satã, o que seria afirmar uma mitologia cristã, ou seja, afirmar que há verdade no cristianismo. Eu só acho que black metallers em geral não estão preparados para sair da Idade Média; eu tenho que considerar que algumas bandas possuem letras sobre individualidade-masturbatória (bem a lá satanismo Anton Szandor La Vey) e devem ser tratadas como exceções dessa descrição.
- Por que não hooliganrock, oi!punk,, ska, psychobilly: - temática "cerveja-buceta-briga" como defesa de um estilo de vida hedonista que os coloca ao lado de letras de hiphop americano e samba. Sua temática defende um estilo de vida que é o torcida-do-corinthians-way-of-life; no país do futebol isso não é nada além do mainstream no final das contas.

IV. Outra nota sobre a ressureição deslocada dos ideais: Internet e seus perigos
Agora é pior, porque eu logo vou contar pra vocês que esses ideais, que deveriar estar devidamente mortos e enterrados, agora vivem em estado de simulacra, numa suspensão de contexto e falta de sentido total, porque a internet criou um ambiente que foge da passagem do tempo. Se eu coloco uma página na internet dizendo "hoje cairá um meteoro em cima da América Latina", daqui a cinco anos eu terei gente entrando na minha página cogitando que aquele pode ser o último dia de suas vidas.
A internet tem um poder de reunir informação e suspendê-la no tempo; e o fato de que movimentos do passado começaram a entrar no conhecimento de países de terceiro mundo só depois que internet apareceu gerou um revival geral desses movimentos do passado.
Eu já falei numa outra matéria que se os punks dos anos 70 e 80 em Nova Iorque viviam numa das cidades mais violentas e sem futuro do mundo, hoje eles se amontoam em apartamentos de 3500 dólares mensais em downtown Manhattan na cidade mais burguesa do mundo. Há algo de deslocado em tudo isso. Recentemente vimos um movimento californiano de proporções relativamente pequenas entrar na internet e virar algo mundial: deathrock. O engraçado é que deathrock já acabou na Califórnia; a Ghoul School fechou, o seu idealizador Mark Splatter mudou pra Berlim, as melhores bandas acabaram ou se mudaram (Subtonix, Vanishing, Phantom Limbs desmancharam; Cinema Strange está pra acabar por causa de brigas internas, seu vocalista Lucas Lanthier mudou pro Canadá e se preocupa mais em escrever contos de fadas para revistas do que compôr músicas). Quando a casa onde acontecia o Release the Bats pegou fogo, a chama do deathrock extinguiu-se concomitantemente.
Só que no Brasil e na Alemanha não parar de falar nele; ele assumiu configurações e direcionamentos diferentemente e continua a crescer mesmo depois de morto, como cabelos e unhas crescem em cadáveres por algum tempo. Esse caso só exemplifica como certos movimentos são simplesmente idéias deslocadas, em um mal sentido. Por outro lado, isso mostra que cenas insanamente inovadoras podem ser criadas se há alguma vontade por trás das pessoas que as formam.
A diferença é que existe uma fenda nessa nostalgia por um passado mítico onde cenas undeground eram fodidas, onde pessoas dançavam na penumbra do club Batcave no SoHo de Londres em 1983 ou podiam ir para Los Angeles na loja de discos e seriam atendidos pelo próprio Rozz Williams do Christian Death, que trabalhava lá pra pagar suas contas com o traficante. Essa nostalgia é besta porque imagina situações que nunca voltarão a acontecer, que são mesquinhas, superficiais, como fantasias de virgens adolescentes. E nenhum de nós chegamos à adolescência virgens mais, este é o ponto; são ideais de uma geração totalmente diferente da nossa. Ela funciona como uma consciência infeliz, e eu noto que essa consciência infeliz é tudo o que permeia o underground paulistano atual, sobretudo na cena deathrock e gótica. É a voz que diz "Ah, como é difícil ser deathrocker no Brasil, quem me dera estar em Nova Iorque"... e outra voz em Nova Iorque diz "Ach, como é difícil ser deathrocker nos Estados Unidos, quem me dera estar em Berlim"... e em Berlim as pessoas arrotam cerveja no Biergarten. No final de contas ninguém moveu a bunda pra transformar seus ideais em realidade, em algo palpável. É um idealismo passivo, que nasce morto por nem ao menos visar a produção da satisfação de seus próprios desejos.

V. O Pós-Underground
Eu deixo pra escrever como seria um pós-underground amanhã, agora estou com sono (o bom de isso estar na internet é que esse amanhã pode ser esperado daqui a 5 anos).
[Inventem-no].

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Aids - sobre quem sou

Nunca foi o que é, e, depois será. Onde está você? Por que foge de si? Por que vai? Por que sai? Por que não fica? Esta perda toda é pra se achar? Você some todos os dias à espera de algum dia sumir para sempre. Sua vida passou diante dos seus olhos imóveis tais quais o dono, e, está aí a fitar o vago: sei que prefere assim; porque é como também apetece a mim: assistir a existência sem fazer parte...
Sou ótimo enquanto ninguém e péssimo ao tentar ser alguém. Por sorte ou azar de uns e outros, não pretendo sê-lo...

Em meu próprio desencontro
Levo-me ao desaparecimento.
Só não quero mais acordar. pronto!
É tudo que tenho pra falar, no momento!